sábado, 3 de julho de 2010

Lenda (2)

15 anos depois.






Aquela noite nunca foi esquecida. O menino da sexta-feira tinha raptado uma criança e passados 15 anos, ninguém, nunca, teve coragem de ir reclamar a menina.

O menino agora era um homem e a garotinha, Helena, uma linda jovem.

Ela sempre se perguntou por que nunca ninguém foi atrás dela e o porquê ela nunca teve vontade de ir embora do castelo.

A verdade é que era muito mais fácil criar lendas, inventar histórias e ter medo do que enfrentar a verdade e descobrir que todas as suas idéias são falsas.



Ele não voltou mais naquela cidade, agora a Helena estava com ele e a sua leveza e beleza o deixavam embriagado de ternura, paz e amor. Sentimentos que sempre procurou indo na cidade, mas só encontrou quando trouxe a menina com ele.

No aniversário de 15 anos do rapto da Helena, ela fez um bolo. Ela contava sua idade a partir daquela data, segundo ela, “foi quando comecei a viver.”



- Por que você faz isso todos os anos, menina?

- Faz tanto tempo e você ainda me trata assim, me chama assim, não sou mais uma menina. Você sabe disso. _Respondeu Helena visivelmente irritada.

- Você sempre será uma menina, que fala demais, pra mim... _Ele sorriu.

- Acho que quero voltar á cidade – Falou de forma espontânea.

- O Quê? Por quê? Pra quê? Aquelas pessoas nunca se importaram com você se importassem teria vindo aqui e arrancado você de mim. _ Ele disso bastante alterado.

- Você sabe me magoar, menino da sexta – feira. – Disse e o deixou sozinho.



Ele odiava quando ela o chamava assim, ela sabia seu nome, tinha perturbado tanto que ele acabou por ceder e finalmente disse como se chamava, mas ela insistia em chamá-lo de “menino da sexta-feira” apenas para irritá-lo.

Ela havia crescido e os sentimentos estavam confusos entre os dois. Não era mais uma brincadeira, muita coisa havia mudado e a vontade dela de voltar o deixava maluco, porque tinha medo de perdê-la pra sempre.

E a mãe da Helena? Como estaria? Por que diabos ela não havia ido atrás da filha?

Eram questões que o afligiam, mas o sorriso da Helena o fazia esquecer tudo.

Odiava ter que magoá-la, doía muito mais nele do que nela. Como fazê-la entender? Ela precisava ficar ali, com ele, pra sempre.



EGOÍSTA.



Mas todos são, oras, e por acaso aquele povo todo não é? Nunca nem quis saber o que aconteceu pra ele se isolar naquele castelo sozinho, durante anos, desde criança. Preferiram criar mitos e lendas. Fugir. Covardes!



HIPOCRÍTA.



Não estaria sendo como eles? Se afastando por medo, privando a Helena de uma vida normal, pelo simples fato de não querer encarar a vida?

-Você não sabe o que aconteceu comigo, Helena – disse ele muito, mas muito mais tarde mesmo.



- Nunca quis contar-me, foges, tens medo até mesmo de mim. Injusto.

- Não, não sou injusto, apenas me reservo o direito de manter-me seguro no meu silêncio, no meu passado e você, pode sair daqui quando quiser, não foi um seqüestro, lembra-se? Você pediu para vim.

- Acho que chegou a hora de voltar. Eu tentei salvar você, mas você não deixou.



Helena voltaria. Qual seria a reação daqueles que durante tantos anos foram omissos com seu sumiço?

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