terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ela (eu) :P

Essa é uma história real. Uma história com uma personagem real. Essa é uma história tão real que até parece não ser. Uma história com uma personagem que, por ser tão real, não parece ser real.
Isso se dá por uma razão. As pessoas reais se transformam em personagens para viver em sociedade. Elas não são, de fato, em sua essência, aquilo que transparecem ser. Assim, quando uma pessoa é ela mesma, quando a sua natureza, o seu eu, é exatamente igual àquilo que ela parece ser, essa pessoa parece não ser real. A pessoa real parece ser uma personagem.
Essa é uma história real, com uma personagem real, que é uma pessoa real que parece ser uma personagem de ficção. Parece confuso?
Ela também é.

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Perguntas. Perguntas exigem uma resposta. Mas e quando a resposta não responde à pergunta? Então ela não é a resposta ou não é uma das respostas. Se ela responde errado, ela é uma resposta errada. Se ela não responde, porém, não é uma resposta. É uma questão simples de lógica. Resposta que não responde não é resposta. Nesses casos, há de se procurar, novamente, a resposta.
E se a pergunta não tem uma resposta? Bom, nesses casos, cria-se um dilema. Um dilema difícil de ser resolvido. Um dilema que pode levar anos, décadas, uma vida para ser resolvido. E, mesmo assim, pode prosseguir insolúvel.
O bom é que poucas são as perguntas que não têm uma resposta. O ruim é que as perguntas irrespondíveis, na imensa maioria das ocasiões, são aquelas que te forjam como pessoa, aquelas que te indicam os caminhos, que te tiram da escuridão que é viver sem saber completamente quem é, sem conhecer por completo, sem desvendar todos os mistérios do indivíduo que mais responsabilidades têm a respeito do que você faz da sua vida: você próprio.

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Ela é uma garota comum. Fisicamente falando, claro. E mesmo fisicamente, pensando bem, ela não é tão comum assim. Não vou me ater ao macro em relação aos dotes físicos. Isso é o que menos importa. Falarei dos olhos. Ah, aqueles olhos. Aqueles olhos, quando lançados assim, meio que em um ângulo de 45 graus, tem o poder de calar qualquer ser vivo. Ok, talvez tenha exagerado. Tiremos dessa lista os invertebrados e os vegetais. Mas só eles. Os outros todos se calam. E se calam porque não conseguem articular uma palavra sequer, sentindo aqueles amendoados olhos jogá-los contra a parede, penetrar em suas entranhas, dominá-los, e fazê-los sucumbirem diante de sua própria incapacidade de compreender o real significado daquele olhar.
Os olhos, porém, não são a parte mais importante e mais fascinante da anatomia dela. Definitivamente não são. As duas partes mais importantes, mais bonitas, mais misteriosas e mais complexas do corpo dela são, indiscutivelmente, o cérebro e o coração.
No cérebro ela guarda todas as dúvidas do mundo. Ela é a pessoa mais questionadora dentre as mais questionadoras. Ela não tem certezas, ela é movediça. Suas convicções só dizem respeito aos seus princípios formadores. De resto, ela não tem certeza de nada e, em razão disso, questiona tudo. Questiona-se sobre tudo. Ela duvida, ela quer mais argumentos, ela não se sacia com pouco, nem com muito, ela quer tudo o que pode obter.
No coração ela tem todos os sentimentos do mundo. Ela ama, ela odeia, ela tem raiva, ela admira, ela se apaixona, ela despreza. Ela é um turbilhão de sentimentos. Todos estão ali, em algum lugar (a maioria deles na epiderme), e todos podem se ausentar ao mesmo tempo, ou podem sair aos poucos, um a um, ou podem sair juntos, confusamente. Ela sente. Mais do que qualquer outro representante da espécie, ela sente. E ela sente os sentimentos da forma mais intensa que você pode imaginar. Ela é intensa. Em tudo. Se você não gostar dela, possivelmente irá odiá-la. Se você gostar, inevitavelmente vai amá-la, amá-la de um modo como nunca amou ou amará.

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“Há algo estranho comigo”. Para a maior parte das pessoas, essa frase é proferida em forma de pergunta. Para ela não. Para ela essa frase é uma afirmação. Ela não acha que há algo de estranho com ela. Ela sabe que há algo de estranho. E o fato de ela saber que há algo de estranho se dá em razão de ela se perceber, se sentir, se ver, se entender, de um modo completamente distinto das outras pessoas. Isso, sabidamente, porém, não significa que há algo de errado com ela. Absolutamente não. O mais provável (muito mais) é de que haja algo errado com os outros. Não há nada de errado com ela, entretanto há algo de estranho. Entendeu? Bom, se não entendeu, creio que ficará mais claro na sequência da história.

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Contraditória. Paradoxal.
O que é a coerência, se não uma sequência de atos ou opiniões intransigentes e, por conseguinte, chatas e previsíveis? Pois então, ela não é coerente. Coerência é para bundões que não sabem reagir ao imprevisto. Coerência é para hipócritas que não admitem que pensam de um modo diferente do que outrora pensavam só para manter as aparências e uma série de relações pessoais fracassadas.
Ela não é coerente com nada. Exceto com ela mesma. E isso basta.

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Você provavelmente não a identificaria em meio a uma multidão, mesmo ela sendo muito diferente de todos ao seu redor. Entretanto, não tenho dúvidas de que lhe chamaria a atenção se você visse uma moça saindo da faculdade, feliz por ter ido muito bem nas últimas provas do semestre, comemorando com os conhecidos (falarei mais sobre eles ali adiante) por estar entrando em férias acadêmicas e, alguns minutos depois, notasse que ela entrou em uma livraria e comprou seis livros, seis romances. E lhe chamaria ainda mais a atenção se você a ouvisse dizer para a vendedora “é para eu ler nas férias”. Seja sincero: você conhece alguém que, após entrar em férias da faculdade, tem como primeiro ato ir a uma livraria comprar romances para ler nas férias? Eu já imaginava que não.

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Ela não gosta do Sol. Pode não parecer, mas isso diz muito sobre ela. Isso diz muito sobre ela porque ela não gosta de Sol, entretanto, ela vive em um lugar em que o Sol é presença constante, em que o Sol reina imponente. Mas ela não gosta de Sol. Essa relação entre ambos é bastante complexa. O Sol é um criador de sombras. Ela se nega a ficar à sombra. Há um conflito de objetivos aí. Ela não gosta do Sol e o Sol não entende como alguém que nasceu, cresceu e vive em um lugar onde quem dá as cartas é ele, se nega a aceitar o seu reinado. Ela é uma rebelde. Sempre foi. Sempre será. Desde a primeira vez que abriu os olhos, até a última vez em que irá fechá-los.

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A curiosidade é o trampolim que nos leva a descobrir coisas. Se não fosse curioso, Thomas Edison não teria inventado a lâmpada. Se não fosse curioso, Santos Dumont não teria inventado o relógio de pulso. Curiosidade é uma coisa boa, portanto. Ela é curiosa. E ela é curiosa por coisas que as pessoas normalmente não são curiosas. Ela quer descobrir coisas que sabe que dificilmente irá descobrir. Mas ela é curiosa, e o fato da coisa que ela quer descobrir ser muito difícil de ser descoberta atiça ainda mais essa curiosidade.
Um exemplo.
Ela tem uma incessante vontade de entender os humanos. Ela busca isso todos os dias. Desde o primeiro minuto após acordar até o último antes de dormir. Ela sabe que não conseguirá descobrir. Saber disso, entretanto, não tira e não diminui nem um pouco a vontade dela de entender os humanos. Ela se aproximou muitas vezes disso, mas, quando achava que tinha descoberto as chaves para entendê-los, percebeu que as fechaduras haviam sido trocadas. Ela tenta entender porque os humanos têm vergonha de mostrar o que sentem, porque sentem prazer ao ver outros seres sofrerem, porque sentem prazer em fazer sofrer, porque eles têm vergonha de chorar, porque relutam tanto em amar e demonstrar o seu amor, porque magoam, porque tentam parecer ser quem não são. Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?
Ela não entende os humanos. E ela não entende porque ela segue tentando entender os humanos, mesmo sabendo que não vai conseguir. Por quê?

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Ela procura. Ela busca. Incessantemente. Ela quer mais do que tudo. Ela procurou, procura e procurará. Uma paixão. Ela quer se apaixonar. Somente uma paixão pode fazer com que ela tenha motivos suficientes para seguir onde está. Ela adora ler e lê com paixão. Ela gosta de escrever e, quando escreve, escreve com paixão. Ela sente com paixão. Ela ama com paixão. Ela vive com paixão. Ás vezes, ela acha que se apaixona muito facilmente. No segundo posterior ela percebe que não. Não é isso. O que ocorre é que ela não tem medo de se apaixonar e se apaixona por tudo aquilo que a emociona, por tudo aquilo que a toca, por tudo aquilo deixa marcas. Ela não tem medo nem vergonha de se expor. Ela não está nem um pouco preocupada com o que os outros pensam dela.
Ela procura uma paixão. Ela já encontrou várias paixões. Já encontrou paixões nos livros. Já encontrou paixões em músicas. Já encontrou paixões em aventuras. Já encontrou paixões platônicas. Ela já encontrou paixões. Diversas delas. Entretanto, ela ainda busca uma paixão. Ela busca a paixão. A paixão que fará com que ela veja algum sentido em tudo o que ela precisa enfrentar diariamente para permanecer onde está.

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Uma jovem universitária deve ter muitos amigos, certo? Não completamente. A assertiva anterior é verdadeira na maior parte dos casos. Na maior parte, porém, não significa em todos. Existe um reduzido grupo de jovens universitárias que não tem muitos amigos. Ela faz parte dele.
Ela é uma jovem, ela é universitária e ela não tem muitos amigos. Como já disse lá atrás, ela é intensa. Em tudo. E as amizades dela são amizades intensas. Não são muitas as pessoas que entenderiam isso e que gostariam de fazer parte desse círculo de relações. E mesmo as pessoas que gostariam, mesmo elas, em sua maioria, não são amigas dela. E não são amigas dela por uma série de razões. Ela não fala o que as pessoas querem ouvir. Isso já afasta muita gente. Ela fala o que pensa. Isso também afasta muita gente. Ela não finge interesses somente para agradar alguém ou para se manter em um grupo. Isso então, afasta muitíssima gente.
Ela tem muitos conhecidos, pessoas com as quais ela convive. Troca algumas palavras com alguns, conversa por mais tempo e mais vezes com outros. Pessoas com as quais ela mantém um relacionamento social. Um relacionamento social convencional (que, na verdade não é tão convencional assim, pois não é falso). Nada mais do que isso.
Ela tem poucos amigos. Ela tem poucos amigos, mas os amigos que ela tem são pessoas nas quais ela confiaria a sua vida, se assim fosse preciso. Não é fácil ou simples ser amigo dela. Tem dias em que ela passa por ti e nem te cumprimenta. Em outros, ela é extremamente direta e seca, sem sorrisos. Tem dias em que ela não quer conversa. Em outros ela te diz exatamente o que ela sente naquele instante e que por isso não tem nenhuma intenção ou vontade de permanecer mais do que apenas o tempo extremamente necessário em companhia de humanos.
Ela tem poucos amigos. Ela tem poucos amigos, mas os amigos que ela tem não pensariam duas vezes antes de confiar a ela as suas vidas, se assim fosse preciso.

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Viver não é algo simples. Viver plenamente então, é ainda muito mais complexo. Os humanos não utilizam o seu tempo, um pouco que seja, para pensar na vida, na sua vida. Pensar na vida exige desprendimento. Para pensar na vida é preciso se desconectar, sair do ar, viajar mesmo. Os humanos estão muito ligados às coisas mundanas. Muito ligados às coisas materiais e à série de regras e convenções que chamam de comportamento socialmente aceito. Pensar toma tempo. Pensar cansa. Pensar chateia. Pensar traz sofrimento. Pensar pode resultar em uma visão mais crua e concreta das coisas.
As pessoas não querem isso. Há muita coisa a fazer na vida para se perder tempo pensando nela. Viver em plenitude não é importante. Viver a vida do modo como o todo diz que é o melhor é o que deve ser feito. O resto é conversa de quem não tem nada o que fazer. É assim que pensam os humanos.

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Medo. Medos.
Sentir medo é uma das coisas mais naturais que existem. O medo é um sentimento que nos protege. O medo é uma forma da espécie não colocar em risco a sua sobrevivência. Sentir medo nunca foi algo ruim, portanto. A sociedade, e, principalmente, o braço corporativo dela, criou e difundiu a ideia de que somente os covardes, de que somente os derrotados têm medo. Ingenuidade, burrice e maldade.
O medo é algo intrínseco a nós. Deixando de lado as questões que se referem ao perigo à manutenção da vida, o medo é um companheiro que nos mostra que tudo o que fazemos tem algum reflexo, ao mesmo tempo em que indica que algumas coisas são inevitáveis. Podemos ter medo de sofrer, ou medo de fazer alguém que amamos sofrer. Por não querer sofrer e não querer fazer alguém que amamos sofrer, pensamos nas consequências dos nossos atos, no que esses atos podem significar para nós e para essas pessoas a quem não queremos causar sofrimento. Por outro lado, porém, sabemos que, uma hora ou outra, vamos sofrer e vamos fazer alguém sofrer. O medo de que isso ocorra nos mostra que, inevitavelmente, isso vai ocorrer, e nos prepara para isso, ou, pelo menos, nos deixa cientes de que não haverá surpresas quando isso ocorrer. É natural. O segredo está em não sucumbir ao medo e, assim, deixar de fazer as coisas que quer fazer, não importa o momento. O segredo está em ter essa percepção de que o medo não é algo ruim e que sentir medo (ou medos) é algo humano. Essencialmente humano.
Falei tudo isso para dizer que ela tem medo. Ela tem medos. Já teve mais, quando era mais jovem. Hoje tem menos, mas ainda tem. Isso não faz dela alguém especial ou diferente das outras pessoas. Em absoluto. O que faz dela alguém especial e diferente das outras pessoas é admitir e aceitar os medos que têm. Está em não ver problema algum em ter medo. Em não se sentir mais fraca ou menos corajosa por ter medos. Em se sentir mais forte e mais corajosa por ter medos e enfrentá-los e conviver com eles e em aprender com eles. Ela aprende com os medos. Ela acorda pela manhã e vê que estão todos ali, os mesmos medos que ela tinha quando adormeceu na noite anterior. E ela se sente mais forte por crescer, por evoluir, por viver tendo os seus medos como companheiros nessa jornada.

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Eu já falei que ela gosta de livros? Se já falei, com certeza falei pouco diante da importância que eles têm na vida dela. Os livros, aliás, são boa parte da vida dela. Quando lê, ela se sente desconectada de tudo que a perturba. A leitura é uma terapia para ela, mas é mais do que isso. Nas palavras estão escondidos todos os segredos do universo. Ela tenta desvendá-los. Todos os dias. E a cada segredo que descobre, outro a desafia.
Os livros apresentam uma outra realidade a ela. Uma realidade mais honesta. Uma realidade mais humana. Uma realidade mais real. Uma realidade mais real do que a realidade que ela vivencia diariamente. Ela não gosta das coisas que ela vê quando sai às ruas. Ela não gosta das coisas que ela ouve nas ruas. Ela não gosta das coisas que ela sente quando ela vê e quando ela ouve as coisas que ela vê e ouve nas ruas.
Os livros são mais sinceros. Os livros são menos cruéis. Os livros se mostram como são. Os livros mostram pra ela que sim, há razão para viver. Experimentar sentimentos novos, se emocionar, perceber que não está sozinha, que outras pessoas sentem e sentiram o mesmo que ela sente e sentiu.
Os livros são mais do que companheiros. Os livros são mais do que amigos para ela. Os livros são paixões. E alguns deles superam isso, ultrapassam essa fase e passam a ser amores. Amores que ela nunca deixará de amar. Amores que deixam e deixaram marcas indeléveis nela. Amores e paixões. Ela não consegue viver sem eles. Ela é humana, demasiada humana.

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Os humanos são seres naturalmente sociáveis, certo? Até certo ponto sim. Digo “até certo ponto” porque é de se estranhar o fato de os humanos serem naturalmente sociáveis e que, ao mesmo tempo, se utilizem de máscaras, se escondam atrás de fantasias, se transformem em quem não são para poder praticar essa sociabilidade. Será então que podemos chamar de natural uma sociabilidade que precisa ser praticada através de imagens irreais de si próprio? Será que podemos chamar de natural uma sociabilidade que exige, em troca, a submissão?
Ela não é sociável. Nem um pouco. As pessoas costumam chamá-la de “esquisita”, de “estranha”. Ela não está nem aí. A famigerada sociabilidade exige sacrifícios que ela não está disposta a se submeter. O preço a pagar é muito alto. Ser sociável não compensa os desagradáveis momentos os quais ela teria de suportar em razão disso. Não compensa mesmo.

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Ela é assim. Vive em sociedade, mas não é um ser social. Ela gosta quando está junto a poucas pessoas, ama quando está longe de muitas e se sente livre quando está só, em seu quarto. É isso. Ela se sente livre quando está sozinha em seu quarto, lendo um livro ou ouvindo música, e se sente prisioneira quando está na rua, caminhando em meio a desconhecidos.
Ela é uma garota. Uma jovem garota. Ela é uma jovem garota que percebe que está crescendo e deixando de ser uma menina. Ela não quer deixar de ser uma menina. Os adultos, com o tempo, ficam cada vez mais parecidos com rochas. Hmm, rochas talvez não sejam a melhor metáfora. Robôs. Sim, robôs. Os humanos, a partir do momento em que se tornam adultos, repletos de responsabilidades, agem como robôs, daqueles que vimos nos filmes, com uma aparência super semelhante com a de qualquer pessoa. O exterior é de humano, mas o interior se brutaliza. O interior se automatiza, se mecaniza. A impressão que dá é de que todos os adultos, com raríssimas exceções, foram feitos em uma linha de montagem. Todos com um funcionamento igual e com a mesma função, só com a carroceria diferente.
Ela sabe que não pode evitar crescer. Aliás, ela já cresceu. Ela cresceu tanto que a casa onde ela mora é pequena demais pra ela. Ela cresceu tanto que o bairro onde ela mora é pequeno demais pra ela. Ela cresceu tanto que a cidade em que ela mora é pequena demais. Ela cresceu tanto que o Estado, ela cresceu tanto que país em que ela vive é pequeno demais pra ela. Ela cresceu tanto que o planeta é pequeno demais pra ela. Ela cresceu tanto que não consegue mais suportar a pequenez das outras pessoas. Ela não suporta a pequenez de espírito, a pequenez de sentimentos, a pequenez de emoções, a pequenez da alma, a pequenez do coração.

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Enquanto isso, enquanto não consegue se libertar fisicamente desse mundinho que a prende, que a tortura, que a decepciona, ela vive no seu mundo. O mundo que ela criou para ela. Um mundo que não a limita. Um mundo que não impõe barreiras. Um mundo que dá possibilidades. Um mundo que não a julga pelas suas escolhas. Um mundo que lhe apresenta caminhos. Um mundo que não exige dela aquilo que ela não quer dar. Um mundo que permite que ela busque outras respostas. Um mundo que não a pressiona a ser quem ela não quer ser. Um mundo em que ela poder ser quem ela quer ser (e a cada dia ser uma garota diferente). Um mundo em que ela pode fazer o que ela quiser fazer (quando ela quiser fazer e como ela quiser fazer). Um mundo que, sempre que ela deseja, se apresenta de um modo diferente. Um mundo colorido quando ela está alegre. Um mundo em preto e branco quando ela está triste. Um mundo gris quando ela está com sono. Um mundo em que o tempo anda devagar quando ela quer descansar e que corre quando ela tem pressa. Um mundo em que ela pode sonhar. Um mundo em que ela pode estar onde quiser. Um mundo em que ela pode voar, voar alto, ultrapassar as nuvens, tocar as estrelas, e ir além, ir sem rumo, até o infinito, se assim quiser. Um mundo em que ela pode ser livre.
Enquanto ela não consegue se libertar fisicamente desse mundinho a que todos chamam de “real”, ela vive no mundo dela. No mundo em que ela pode ser ela. No mundo em que ela pode ser a garota que está virando mulher, mas que quer manter a sua essência de menina.
Enquanto isso, ela vive no mundo da imaginação. E nele ela é feliz. Enquanto uma nave espacial não surge para levá-la de volta para o planeta de onde veio, ela segue neste, onde ainda busca a felicidade. Ela está neste mundo, mas vive no dela.

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Este não é o fim. Ainda há muitas pessoas para evitar, coisas com as quais se irritar, lugares para conhecer. Ainda há muito para com o qual se apaixonar. Ainda há muito para amar. Ainda há muito a viver. Assim como fez até agora, o resto da história quem escreverá será ela. Limito-me a acompanhar, de longe, ou de perto. Quem escreverá será ela. Só ela.

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Escrito por Juliano Tatsch para Tamires Prado, em dezembro de 2010.

Um comentário:

  1. :)

    E não é que ficou bom isso. Também, com uma personagem assim, qualquer um escreve. Aliás, um ano se passou. Cabem mais uns capítulos aí ...

    =*********************

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