domingo, 17 de abril de 2011

Perdendo a capacidade de escrever.

Hoje eu abrir o Word para tentar escrever um texto pra o blog. Pensei, pensei e nada saiu. Foi quando algo assustador passou pela minha cabeça.

Eu perdi a capacidade de escrever.

Já não escrevia tão bem assim, mas agora parece que as palavras me faltam com mais freqüência do que alguns meses atrás.
Relendo esse blog eu percebo que ele é meio sombrio. E por quê?  Eu só escrevi algo do que realmente gostei quando estava triste, deprimida, down.  Então concluí que estar feliz não inspira. Peguei alguns dos meus textos favoritos da Jane Austen, Hermann Hesse, Clarice Lispector, Florbela Espanca e Machado de Assis. Inglesa, Alemão/suíço, Brasileira/o e uma portuguesa. O que eles têm em comum? (Além da capacidade de me emocionar, me fazer viajar e apaixonar). Os seus melhores textos têm cunho melancólico. Será que a melancolia é inspiradora? E se for, por quê?  

Quando se está feliz não sobra tempo para mais nada, Clarice?

O que é preciso para escrever? Papel e caneta? Word e teclado? Paixão e solidão?
Colocar o pessimismo, a desesperança, o sofrimento pra fora é mais fácil? Não. Sim. Não sei. O que sei é que sinto falta, sinto falta de escrever, mesmo que meus escritos sejam medíocres.

O homem é um ser ansioso pela felicidade; no entanto, não a suporta por muito tempo.

Por que será, hein Hesse? 

Hoje é só um texto de perguntas, perguntas sem resposta. 

Um comentário:

  1. O que é preciso para escrever? Pergunta difícil, inclusive para um jornalista.

    Bom, creio que o ingrediente essencial para escrever é o desequilíbrio. Daí porque é muito difícil criar quando se está muito feliz. Felicidade pressupõe cada coisa em seu devido lugar, significa um estado de quase perfeição. Felicidade pressupõe equilíbrio. Equilíbrio pode ser um movimento constante ou pode ser imobilidade. Em qualquer uma das situações há equilíbrio. Isso é natural: buscamos, inconscientemente, talvez, manter sempre o equilíbrio. Gostamos do status quo. Na física é assim, lei da inércia. Conosco também é.

    Paixão e solidão? Sim, assim como amor, como ódio, como raiva, como medo, como desilusão, como alegria, como euforia, como sofrimento, como êxtase, como frustração. DESEQUILÍBRIO. Algo tem de estar incomodando, martelando na cabeça, provocando. Geralmente, não há nada incomodando quem está feliz. Se isso ocorresse, não haveria felicidade, talvez alegria, mas não felicidade. Felicidade é um sentimento de plena satisfação. Muito difícil de alcançar. Comumente confundido com a própria alegria.

    Escrever tem muito a ver também com a necessidade de expressar algo que, por outros meios, se torna difícil de dizer. Quase todos os grandes escritores eram introspectivos, tímidos, fechados. Todos os que citaste eram: Machado, Hesse, Clarice, Florbela. Posso citar dezenas de outros, Drummond, Augusto dos Anjos, Dostoiévski, Jack London, Saramago, Shakespeare, enfim. Eles tinham coisas para dizer, mas não conseguiam falar oralmente. Não da mesma forma. Não com a mesma intensidade. Não com o mesmo sentimento. O texto escrito distancia mais o leitor do escritor do que o ouvinte de quem fala. A proximidade intimida e estimula a falsidade.

    O papel é um depositório de sentimentos para quem escreve. O escritor sua ao escrever, treme quando não consegue escrever, somatiza sensações psíquicas quando as palavras não surgem. Ele acumula os sentimentos e isso o prejudica. O texto é o que o salva. Ele se sente livre quando o escrito sai dele e vai para o papel. Quem tem para onde direcionar estes sentimentos, em alguém, por exemplo, não sente muita necessidade de escrever. É normal.

    A melancolia é tão inspiradora quanto o amor, quanto a paixão. E possui muita relação com ambos, inclusive. Quem está apaixonado escreve muito, quem ama também, assim como quem está melancólico ou triste. Todos os sentimentos estimulam o escritor, não importa qual. Mas a felicidade não é um sentimento, é um estado. Já percebestes como os suicídas sentem necessidade de escrever algo para deixar para quem fica? Há desequilíbrio maior do que uma situação em que a pessoa pensa em tirar a própria vida? Não creio. E o texto melancólico não é, necessariamente, melhor do que o texto apaixonado ou do que o texto amoroso. Não mesmo.

    Pessoas felizes não escrevem, ou não sentem necessidade de escrever. Escrever é sair da zona de conforto, ou melhor, só quem não está em uma zona de conforto acha preciso escrever. Escrever é um ato que resulta de reflexão, de muita reflexão. De questionamentos, de dúvidas. Quando não há questionamentos, pelo menos aparentemente, a si e aos outros, sobre si e sobre os outros, escrever fica difícil. Forçar, procurar algo que poderia gerar um desconforto, resultaria, possivelmente, na quebra da felicidade. E, quem acredita ter alcançado tal estado de satisfação plena, não deseja sair dele. É normal. É da nossa natureza.

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